Sensualidade de vestido decotado com morangos sensíveis bordados em pano de prato amarrado no cabelo e o sangue a queima roupa na bandeja gelada do necrotério, onde em mim autopsiam as ligações das veias verdes que transportam cor vermelha ao meu coração. Traços de pincel atômico perfuram meu umbigo onde se armazenam as cicatrizes cor de jambo que se deram na queda de meu corpo contra o mundo. Eles não encontram o paradeiro das rosas rubras mas algumas partes insistem em exalar um tal perfume que se estranha misturado ao de morte. O fígado virou uma caverna – ou uma galeria de arte? – com alguns quadros pintados à vinho e óleo. Há um sinal de libido na sola do pé mas o envergonhado sinal de exotismo se escondeu pelo corpo. Do palato se pode encontrar a melancolia do pôr-do-sol que mais parece brisa mas pode também ser calor inquietante e constrangedor de sol de meio-dia. Pois lá – e em todo resto – estão as maçãs e os corações tatuados em meio a lava e a ferida. Como qualquer fruta vermelha é bonita de comer embora perecível. A geladeira não pode conservar por muito tempo e eles não encontram o paradeiro das amoras inocentes. Passam muito tempo na vagina a procurar o óbvio suposto de violências e imposições, supondo encontrar ali a única fonte da cor. Acham, no entanto, um mar de escolhas com vontade própria, a exalar maresia antipática e autônoma. Com o corpo despido de partido, encontram uma sinfonia de líquidos discordantes que se aglutinavam outrora no pranto do papel. Retiram amostras de sangue repetidas vezes mas eles não encontram o paradeiro dos laços invisíveis que envolvem a carne viva. O meu vermelho canalha gargalha com o desespero dos bisturis estúpidos, mas o ajustado soluça com a denúncia imbecil dos sintomas. O diagnóstico é uma multa de policial corrupto dizendo que eu não posso ultrapassar a placa vermelha para ficar perto dos multicoloridos. Minhas palavras passam, então, carregando meus restos.