algum diálogo





- Não consigo.
- Também não. Essa cidade está insuportável.
- É a seca.
- A lei?
- Não... o tempo seco.
- Paralisamos.
- Como numa greve?
- Pode ser.
- Preciso de você na veia.
- Pra mim também é o único lugar suportável pra passar o dia todo.
- O exercício do nada.
- A interlocução do nada.
- Do eco, talvez?
- Às vezes.
- A cidade está insuportável.
- Eu sei. (pausa) Acho que você deve ir pro Rio, encontrar ele.
- Ai. Nem me fala que dá cócegas.
- Seu frio na barriga se chama cócegas?
- Qual o nome do que você sentiu?
- Adrenalina.
- Adrenalina?
- (Afirmativamente) Assim que eu sentei na cadeira do ônibus! Quando desembarquei quis perguntar: é aqui o amor?
- O que diriam?
- Que era. Mas ele provavelmente não diria nada.
- (Pausa) Acho que é o frio.
- Dele?
- Não. Da cidade.
- É ainda mais denso que isso. (pausa. com alguma inquietação) É agosto, meu amigo, pesando nos nossos ombros.
- Um agosto grave... Como esses galhos. (Olhar perdido. Cigarro)
- Mas é novembro meu mês mais difícil... Sempre.
- E quando é o amor?
- Não sei... nunca.