Fiquei um tempo vivendo sem bloquinho, disse a ela. Desde que o conheci, aqui, na praça dos 15 mistérios, vivi um tempo sem narração, sem apontamentos. Foi aqui que o conheci, foi tão mágico, você precisava saber. Foi o dia que mudou a minha vida. Louco isso, né?! Um dia que muda tudo. Tive outros desses dias, mas nenhum tão nitidamente o dia em que mudou tudo. Que difícil quando a vida nos rouba a página e escreve ela mesma a história, disse, meio narrando, aos olhos verdes e cândidos e atentos. E agora eu sinto o tempo de outra forma. É como se meu filho fosse uma projeção do tempo. Ele que existirá independente de mim, permanecerá no curso da história mesmo se eu não mais existir... me imortalizarei também na sua existência posto que é um pedaço de mim? Há algo de involuntário e inevitável nisso tudo. É difícil não sermos os autores, somos obcecados em sermos autores, disse. Sei que um dia ele vai me ler. Me compreenderá? Sei que um dia descobrirá tudo o que fui antes de lhe doar um pedaço de mim.