Luiza Breu

Phoenix - Cibelle

Novamente os abismos. E como haver abismo sem cigarros?
Me perdoe, corpo, mas você já aguentou tanta coisa, mais esse cigarro não vai fazer diferença.

(ascende o cigarro e dá uma longa tragada)

Vamos se perdoar um pouco, tá?

(fuma o cigarro e cantarola o começo da música)

Help...
... i’m falling down...
Nós, tão cheios de carnes, ossos, traumas, vontades, sonhos, construções e eufemismos... não queira bancar o mocinho agora e dizer que precisa dos meus cuidados. Eu não sou a heroína e não pretendo elevar meu espírito ao nirvana, pelo menos não nas próximas semanas.

(fuma o cigarro ao som de Phoenix; aproxima-se do espelho e conversa consigo mesma)

Ah, Luiza, quem você tá procurando aí dentro? O que você quer enxergar nos olhos? Será que são os seus olhos que você vê quando se olha no espelho? Ou essa massa maior e disforme que envolve pêlos, carnes, ossos? Há semanas você não consegue se ler, Luiza. Há semanas você não está em paz com esse espelho. Saia daí. Saia já.

(caminha, enferma, até o notebook, empilhado em caixas)