Luiza Breu me reapareceu na sombra de uma grave tempestade que se formava, há dias, no céu da cidade. No escuro do cômodo, entre as nuvens negras da janela, que antecipavam a noite que não terminaria, avistei a moça, recostada na parede, a recortar cicatrizes no próprio corpo. Ao seu redor, bacias de água onde boiavam restos de folhas de papel.
Ao notar minha presença, ela me olhou fundo, com os olhos inchados e disse “os abismos. novamente os abismos”. E assim, pôs-se a perguntar, repetidamente, a cada retalho, entre lágrimas negras de lápis de olho, por que eu não havia lhe dado enredo melhor. Diferente, ao menos, questionava furiosa.
Não fui capaz de verbalizar um só signo, como se tivesse em minha frente um fantasma que me roubava a voz. Continuei apenas mirando a cena, de um canto do quarto, onde só era capaz de mover os olhos e escutar, junto com a tormenta das águas que já desabavam, os refrões que Luiza Breu repetia em ladainha.
Quando a noite se espalhou uniformemente em seu manto, ela saiu de cena e era agora eu quem, sem dar-me conta, repetia os mesmos gestos, como que tomada por aquela aparição já ausente. Percorri cada uma das feridas da carne, lhes devolvendo vida, solfejando as mesmas notas das partituras de Breu. Novamente os abismos, a velha espera, o abandono canalha de Luiza.
Já consciente da manobra, então, acendi os abajures de lâmpada negra, em busca de respostas e alguma luz. Foi quando me deparei com as minhas letras, em pedaços encharcados de papel, inundando todo chão do quarto. Ela havia derramado as bacias de mentira antes de partir, me obrigando a permanecer presa, como ela, ao que eu criei. Foi assim que fugi, novamente, para a terceira pessoa. Era a única saída para conter a enchente em que se transformou aquele novo canto.
Ao notar minha presença, ela me olhou fundo, com os olhos inchados e disse “os abismos. novamente os abismos”. E assim, pôs-se a perguntar, repetidamente, a cada retalho, entre lágrimas negras de lápis de olho, por que eu não havia lhe dado enredo melhor. Diferente, ao menos, questionava furiosa.
Não fui capaz de verbalizar um só signo, como se tivesse em minha frente um fantasma que me roubava a voz. Continuei apenas mirando a cena, de um canto do quarto, onde só era capaz de mover os olhos e escutar, junto com a tormenta das águas que já desabavam, os refrões que Luiza Breu repetia em ladainha.
Quando a noite se espalhou uniformemente em seu manto, ela saiu de cena e era agora eu quem, sem dar-me conta, repetia os mesmos gestos, como que tomada por aquela aparição já ausente. Percorri cada uma das feridas da carne, lhes devolvendo vida, solfejando as mesmas notas das partituras de Breu. Novamente os abismos, a velha espera, o abandono canalha de Luiza.
Já consciente da manobra, então, acendi os abajures de lâmpada negra, em busca de respostas e alguma luz. Foi quando me deparei com as minhas letras, em pedaços encharcados de papel, inundando todo chão do quarto. Ela havia derramado as bacias de mentira antes de partir, me obrigando a permanecer presa, como ela, ao que eu criei. Foi assim que fugi, novamente, para a terceira pessoa. Era a única saída para conter a enchente em que se transformou aquele novo canto.