Sou eu quem não existe, escrevi com um risco forte de lápis pontiagudo. A busca vã por quem não existe. Ela não existe. Ele também não. Só existe a falta, a ausência, a busca, a vontade, o desejo. Tudo só se dá no corpo. O resto não existe. Os elos não existem de fora pra dentro. Só existe o que é de dentro pra dentro. E as cicatrizes, o que são? Sim, as cicatrizes estão no corpo e só elas carrego no peito. Peito não é coração. Coração não existe, seresteiros. Não acredito mais nestes versos que canto. Quero só o que existe, sem sombras, sem imitação. Quero, antes e depois, a terra, o barro, a lama. Chega desta inebriante garrafa de palavras ditas, repetidas, cantadas, gritadas na embriaguez. Quero mais monólogo não. Compro tintas. Vou pintar poesia tátil. Arranjo argila. Faço cinzeiros novos. Distribuo para os amigos. Fio terra. Quero mão na massa. Massa de modelar. Sugue essa energia de restos. Devolva novas. As de gesto. Devolva-me, terra. Sem mais vozes sós. Anseio por corpos. O legítimo pulsar das veias. Que seja o vício desta fumaça entrando e saindo, ao invés destas alucinações instantâneas de janelas abrindo e fechando e piscando. Os aparelhos que separam canto de performance. As técnicas de fragmentação. Os perfis falsos. Risadas mudas. Quero mais não. Quero é muito. O muito dos pequeninos silêncios da respiração. Busca vã pelo que não existe? Corro para o chão da rua. O chão da pista existe. Danço de olhos fechados até chegar o suor. Expiro canção em outra conjugação: cordas vocais concordam com o balanço do esqueleto que por sua vez regem o pós-movimento das línguas unidas. Inspiro? Só ar. Abro bem os tímpanos para a freqüência de histórias baseadas em fatos reais. Biografias e organismos vivos. Quero o que existe. Sei fazer ficção não. Troco os milhos espalhados deste alfabeto pela grafite de madeira. Posto, não publico. Copiem e colem. Não há direitos, não há autorais. Isto não está à venda. É apenas empréstimo de palavras. Download-emos! Sou incapaz de seguir os livros de receitas na ordem e medida certas de ingredientes. Misturo tudo. aquarela, recortes, lantejoulas, fitas, colas, lápis de olho, panfletos, cartões postais, bilhetes, páginas de caderno, guardanapos amassados, letras de música. Mas sou água e esta interface é líquida. Borra tudo. E eu não existo neste borrão. Não se vê ninguém na sombra. Só na luz. Sou a voz do esboço, do rabisco, da rasura. Matei Edith. Nada de revisar postagens. Não quero me corrigi, quero dizer. Assim, com cortes no fio da meada. Costurar meus botões no próprio corpo. Nada de contar palavras. Não sou eu a dona da voz? Ah, tá. Então, estamos conversados: não há copydescagem nem acordos ortográficos no preparo desta cabidela. Eu disse ao Outro: você não existe. Mas quem não existe sou eu.