Carta XVI - A Torre

Depois de cair, retorno. Mesmo assim, só de passagem.
Me vejo sozinha agora na torre do castelo. Ele está cheio, mas não me reconheço mais nas armações desses óculos, nessas t-shirts coloridas, nas estampas recorrentes de che, nas camisas de futebol da Bolívia, nos baseados mal-embolados por risadas estereofônicas, nos cigarros emprestados e nunca devolvidos, nas grafites de artivismo temporário, nos movimentos sociais instantâneos dos botecos da redondeza, nas máquinas empostadas para auto-fotos coletivas, na galera da pós-, nas verdades vomitadas em frases na 1ª pessoa, nos alargadores milionários de bambu, nos dreads de franja lisa na testa branca, nas havaianas gastas de embrenhagem, nos cartazes ambientalistas sob as bitucas de cigarro, nos gestos largos de ordem eufórica estudantil, na reprodução xerocada de orelhas e trechos de livros bíblicos, nas coca-colas de canudo nos punhos de pulseirinhas de couro, nos fios calculadamente desfiados em órbita, nos cabelos longos das camilinhas hippadas de shopping, no tempo livre de um turno para o outro deitados no chão do pátio de concreto, nos olhares pseudoatentos às apostilas lidas ao barulho dos universitários, em quem escreve sozinha, com fones de ouvido, no supermercado de estilos desta narrativa visual, e se julga olhada ao som de folk gringo. Não acredito mais.
Só acredito na imagem sincera daquele moço ali, recostado, forçando a vista cansada para ler a revista que distribui gratuitamente como uma cortesia da Abril aos universitários de plantão, que aguardam o início do turno da tarde, atentos ao roteiro da performance.
Jovens, escrevo. Que diabo é jovem e até quando isso dura?
Hoje? Hoje jovem é interminável, me responde a moça da mesa-redonda sem eu nem perguntar.
Vou-me embora, ainda com os hematomas da queda.
Não sei se volto não.
Não me reconheço mais aqui no alto.