6 – A decisão
“Agora vivo na barriga
Agora brigo pra voltar
Agora.” *

Ela primeiro me perguntou se podia me pedir algo. Eu disse claro! Ela então fez qualquer coisa como um suspense ou uma timidez inventada naquela gargalhada adorável e escandalosa. Eu ri também, mesmo assim temendo o tamanho do pedido. Foi quando ela me disse eu queria que você escrevesse a minha história. Sorri apenas, olhando seus olhos de mar. E embora eu tenha desejado dar-lhe isso, como um eco e um carinho para seu grito engasgado, eu não consegui escrever uma história que não fosse minha. Mas daí aconteceu da minha história se cruzar com a dela. Eu também passaria nove meses de ventre cheio e tínhamos, então, como nenhuma outra, uma experiência repartida, impossível de ser imaginada posto que vivida agudamente. Foi então que contando a minha história eu contaria um pouco da dela e mesmo assim sabíamos que nossas narrativas não seriam nem nunca foram a mesma, embora vez ou outra se cruzassem no verão.

* “Agora”, Arnaldo Antunes.